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Migrante cidadão: senegalês transforma a casa em abrigo humanitário no Acre

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Reportagem Especial – Por Freud Antunes.

Rio Bancos (AC) – Na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Peru, o fluxo imigratório de estrangeiros em Rio Branco, capital do Acre, não é tão alto como há seis anos, mas eles continuam chegando à procura de emprego e melhor qualidade de vida. No entanto, os novos imigrantes que entram pela rota do Acre já não encontram a ajuda humanitária do governo para se abrigar e recomeçar a vida no Brasil. Há quase dois anos, a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) fechou o abrigo Chácara Aliança. Sem local para o acolhimento, o senegalês El Hadji Dieng, 32 anos, decidiu transformar sua casa alugada em um espaço para receber os imigrantes.

A reportagem da Amazônia Real visitou a casa-abrigo e encontrou 15 imigrantes alojados por El Hadji Dieng. Entre eles, há argentinos, colombianos, venezuelanos, dominicanos, senegaleses, sul-africanos e guineenses. Dieng contou ter recebido cerca de 600 pessoas de diversos países desde 2016, quando o abrigo público fechou.

Os venezuelanos estão chegando de uma longa viagem que começa pela fronteira brasileira em Pacaraima, em Roraima, viajam de ônibus pela BR-174 para Manaus, seguem para Porto Velho, em Rondônia, ou de barco pelo rio Madeira. De Porto Velho, eles pegam um ônibus até Rio Branco pela BR-364.

A casa-abrigo do senegalês El Hadji Dieng tem dois quartos, uma sala, uma cozinha e um banheiro e está localizada no bairro, que por coincidência, chama-se Defesa Civil, o setor dos governos responsável pelo atendimento de ação humanitária e resposta aos desastres ambientais. No lugar, as mulheres ficam em um quarto separado dos homens. Eles dividem um outro cômodo e também são alojados na sala, onde fica uma TV. A maioria gosta de assistir os programas brasileiros para entender a língua e a cultura do Brasil.

Empreendedor desde a terra natal, Dieng montou um mercadinho a cerca de 10 metros da casa-abrigo. Ele vende recarga para celular, desodorante, alimentos não perecíveis e salgadinhos. O senegalês diz que o valor arrecadado no comércio ajuda a pagar o aluguel da casa, as contas de energia e de água. Antes do comércio, o senegalês conta que dependia exclusivamente de um rateio feito pelos imigrantes para o pagamento das despesas e de ajuda enviada pelos seus familiares do Senegal.

Dieng explicou que veio para o Brasil com um amigo em busca de emprego, no final de 2015. Os dois pegaram um avião do Senegal para a Espanha. De lá seguiram em transporte aéreo para o Equador e depois para foram para o Peru. Para cruzar a fronteira brasileira, eles viajaram de ônibus até Assis Brasil, no Acre. Daí seguiram para Rio Branco.

O senegalês conta que durante toda a sua estada no Brasil não encontrou emprego. Seu amigo seguiu viagem até o Sul do país, onde conseguiu trabalho. Assim, Dieng decidiu ajudar os imigrantes que chegavam, traduzindo documentos, por falar cinco idiomas, como espanhol, inglês, francês, português e wolof, língua falada no país natal.

“Às vezes recebo ligação informando que existe um imigrante dormindo na rodoviária, então vou buscá-lo. Nesse caso, a rotina é a mesma: levo a pessoa para a Polícia Federal para poder protocolar o pedido de refugiado e ofereço espaço na casa”, explicou Hadji Dieng.

Abrigo na casa do o senegalês El Hadji Dieng (Foto: Odair Leal/Amazônia Real)

Dieng conta que toda a rotina de limpeza da casa-abrigo é dividida entre os imigrantes, mas tem alguns que acabam contribuindo com o aluguel e com a alimentação.

“Existem aqueles que chegam praticamente sem dinheiro. Tem também aqueles que podem contribuir com uma cota e é desse recurso que podemos comprar comida, produtos de limpeza, pagar o aluguel, ajudando na alimentação até daqueles que não podem. Minha família, no Senegal, ajuda também a pagar parte desse aluguel”, afirmou.

El Hadji Dieng disse que muitos acabam passando meses na casa-abrigo por falta de emprego e aguardando os documentos brasileiros, conseguindo fazer apenas alguns trabalhos informais, como pedreiro e pintor.

Mesmo gostando do Acre, ele afirmou que espera um dia retornar ao país natal, mas que no momento prefere continuar em Rio Branco, ajudando os demais imigrantes.

Dieng afirmou que não recebe ajuda do governo brasileiro para auxiliar os outros imigrantes. “Quando o abrigo de refugiados fechou, eu fui até a secretaria para pedir apoio e eles disseram que não havia condições financeiras para custear a casa ou o alimento. Enquanto isso as pessoas continuam chegando, então resolvi aceitar todos porque não é justo deixar os imigrantes abandonados”, afirmou.

Visto em Porto Príncipe

Imigrantes senegalês e haitianos no abrigo Chácara Aliança em Rio Branco. (Foto: Freud Antunes/Amazônia Real/2014)

Segundo a Polícia Federal, 125.119 haitianos e 14.106 senegaleses migraram para o Brasil entre os anos de 2010 a 2017. O fluxo continua em menor proporção, sendo que a maioria entra com o visto de turista, mas depois acaba pedindo refúgio. Apenas em 2017, a Delegacia de Polícia Federal do Acre recebeu 49 solicitações de refúgio de imigrantes.

Já a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh) diz que entre os anos de 2010 a 2016 ingressaram 43.303 estrangeiros de 27 nacionalidades, sendo a maioria de haitianos, no estado do Acre. Entre os meses de janeiro a fevereiro deste ano, conforme a secretaria, o Acre recebeu 378 imigrantes.

Segundo o órgão, o abrigo Chácara Aliança foi fechado porque o fluxo de imigrantes haitianos foi reduzindo após o governo brasileiro emitir o visto de entrada em Porto Príncipe, no Haiti. Assim, os haitianos passaram a viajar da capital haitiana para São Paulo e Rio de Janeiro. Com a crise econômica brasileira, os haitianos passaram a migrar para outros países, como Panamá, Estados Unidos e Canadá.

O secretário da Divisão de Atendimento a Imigrantes e Refugiados da Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos (Sejudh), Lucinei Luiz, disse que com a desativação do abrigo público, o governo atualmente faz a orientação burocrática e jurídica aos estrangeiros. Não é mais oferecida a ajuda alimentar e financeira como nos anos anteriores.

Por Freud Antunes – clique aqui.

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Balneários de Brasiléia são fechados por falta de segurança

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Os balneários Kumarurana e Jarinal, localizados na zona rural do município de Brasiléia, foram fechados no último fim de semana, pelo 5º Batalhão do Corpo de Bombeiros, sediado naquele município, por não estarem cumprindo as normas de segurança.

Bastante frequentados pela população da região da fronteira e de outros municípios do estado, os espaços de lazer foram notificados a reabrir somente depois que se adequarem às exigências legais, principalmente contratando o serviço de salva-vidas.

“O local oferece esses banhos e cobram entrada das pessoas. Os municípios de Brasiléia e Epitaciolândia tem esses profissionais devidamente treinados e qualificados que deveriam estar oferecendo segurança aos banhistas”, explicou o sargento Vivian.

A ida do Corpo de Bombeiros aos balneários, com o apoio da Polícia Militar, se deu após denúncia de irregularidades. Nos locais, foi confirmada a falta do Atestado de Funcionamento e os banhistas tiveram que deixar a água por medida de segurança.

Em um dos casos, os militares foram desacatados por um frequentador em visível estado de embriaguez. O homem recebeu voz de prisão foi detido por desacato, sendo levado à delegacia onde foi ouvido e liberado.

Os estabelecimentos poderão responder jurídica e administrativamente caso reabram sem tomar as medidas de segurança exigidas para o seu funcionamento. Entre as possíveis sanções estão multa e perda do alvará de funcionamento.

Com colaboração e fotos do jornalista Alexandre Lima.

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Taxa de ocupação em leitos de UTI para a Covid-19 é de 30% no Acre

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A taxa geral de ocupação de leitos de Unidade Tratamento Intensivo (UTI) exclusivos para pacientes com a Covid-19 no Acre está em torno de 30% nesta segunda-feira (14).

Os dados são do Boletim de Assistência ao Enfrentamento da Covid-19, emitido pela Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre). O boletim mostra a ocupação de leitos do Sistema Único de Saúde (SUS), por especialidade do leito e por regional.

Segundo dados oficiais, das 126 internações em leitos do SUS, 80 testaram positivo para Covid-19, ou seja, a maioria das pessoas que buscam atendimento médico foram infectadas pelo vírus.

Na região do Baixo Acre, que engloba as cidades de Rio Branco, Sena Madureira, Plácido de Castro e Acrelândia, das 70 Unidades de Tratamento Intensivo (UTI), 27 estão ocupadas registrando uma taxa de ocupação de 38,6%.

A menor taxa de ocupação está na região do Juruá, que engloba Cruzeiro do Sul, Tarauacá e Marechal Thaumaturgo, dos 20 leitos de UTI existentes, nenhum está ocupado, registrando 0% de ocupação. Os leitos clínicos somam 95 e 23 estão ocupados, registrando 24,2% de ocupação.

Já regional do Alto Acre, que engloba as cidades de Brasileia e Epitaciolândia, não há registro de uma ocupação de leitos de enfermaria num total de 19 leitos disponíveis. A regional do Alto Acre é a única que não tem leitos de UTI para a Covid-19.

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